Saltar para: Post [1], Comentar [2], Pesquisa e Arquivos [3]

2666

A literatura é um ofício perigoso.

 

 

Em Soldados de Salamina o escritor Roberto Bolaño, enquanto personagem, fala às tantas dos seus amigos sul-americanos que desapareceram, embora continuem a existir porque ele se lembra deles e escreve sobre eles. Agora é a própria memória de Bolaño, que entretanto morreu, que está defendida no seu livro. Os ficcionistas têm um dever da memória?
Claro. Porque a literatura é memória. A literatura o que faz é resgatar os mortos. Há um poema de Thomas Hardy sobre a segunda morte, a morte definitiva, que é quando já não existe ninguém que se lembre de nós. Pois a literatura é uma batalha para que essa segunda morte não aconteça. É como Orfeu buscando Eurídice no inferno. É arrancar os mortos à morte. E é também como se os mortos se agarrassem a nós com todas as forças, para não morrer de vez. A literatura não pode ser outra coisa a não ser isto. Uma batalha contra o esquecimento, contra a morte. Porque as palavras não morrem. Porque a linguagem não morre.

 

A pergunta é de José Mário Silva, a resposta de Javier Cercas. A entrevista - a propósito do livro Soldados de Salamina (Asa, 2006)- publicada no suplemento 6.ª do Diário de Notícias, a 10 de Março de 2006]

 

1 comentário

Comentar:

Mais

Comentar via SAPO Blogs

Se preenchido, o e-mail é usado apenas para notificação de respostas.

Este blog tem comentários moderados.

Mais sobre mim

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2009
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
«Um livro contra o esquecimento que, nas suas qualidades e nas suas imperfeições, é uma profissão de fé no poder da literatura.» Bruno Vieira Amaral