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2666

A literatura é um ofício perigoso.

A morte é um estado fácil de atingir na medida em que para morrer, vocês sabem. No entanto, é usual e compreensível entendê-la como um castigo penoso para o seu alvo e, não menos, para os que com ele convivem. A morte chega, egoísta, para pôr fim à vida e levar com ela o corpo, a voz e o cheiro do indivíduo cuja hora marcou. Não seria, então, fácil de compreender este sujeito como o prémio final, o cair do pano e consequentes aplausos, como a coroa da glória ou o erguer do troféu antes de ler Bolaño. Há em Bolaño um odor póstumo, fúnebre que indicia a cada frase um final iminente e, perdoe-me se me engano, desejado. Há na obra de Bolaño, que se confunde com a sua vida, um caminho cuidadoso para o fim e onde 2666 assume o papel de última morada. Acredito, aliás, que se a insuficiência hepática do chileno não se tivesse feito prever, Bolaño terminaria com um tiro nos cornos, como Hemingway, ou com uma corda ao pescoço, como David Foster Wallace. Se primasse pela saúde, Bolaño não sobreviria pelo simples facto de que o obrigariam a escolher entre a sua vida e a sua obra.


No que me diz respeito, se o hedonismo do autor o levasse a optar pela vida, matá-lo ia eu. Com uma faca no peito, ou na barriga, não sei bem. Talvez na barriga e subindo-a ao peito, para doer e ser trágico, para se poder contar. Depois de ler Bolaño, também nós, enquanto leitores, escritores, columbófilos ou padeiros, morremos. Morremos e voltamos à vida com uma amplitude de cinzentos alargada e com uma pistola na primeira gaveta da mesa do escritório. Há um momento na vida em que todo o homem se encontra a um final decente de ser grande. Fechei 2666 com a certeza que Bolaño terminou, rumo à glória eterna, na última palavra do livro.

 

Duarte Duval leu 2666 e enviou-nos este texto, que em reposta ao nosso pedido.

Segundo Carolina Lopéz, a viúva de Roberto Bolaño, é no romance inédito e incompleto  Los Sinsabores del Verdadero Policia que se encontram as origens ou o núcleo do  universo literário do escritor chileno. Trazido a público pelo agente Andrew Wylie na Feira do Livro de Frankfurt Los Sinsabores é descrito por Carolina Lopéz como um projecto em que o autor trabalhou durante 13 anos que «dá aos leitores a ideia da sua singular espontaneidade e de como desfrutava da liberdade quando escrevia».  A notícia é dada por Isabel Coutinho e pode ser lida aqui, numa peça sobre as novidades da Feira de Frankfurt.

«2666 é um murro no estômago, um verdadeiro incêndio literário, como há muito tempo não se via nas livrarias de todo o mundo. Especialmente num século como o nosso, obcecado pela juventude eterna, pelo sucesso, pelo dinheiro fácil, pela fama, pela beleza física, pelos 15 minutos de fama. Num século XXI asfixiado pelo êxito fácil e pela literatura light, só um escritor com muita coragem poderia escrever algo que, à partida, parecia “invendável”.»

 

2666 foi o livro recomendado pela Biblioteca Mira Fernandes no blogue Biblioteca Porta Aberta.

 

Bolaño, Larsson, Dan Brown, Meyer escreveram livros que são fenómenos de popularidade e provocam adição em que em os lê. No próximo encontro Ler no Chiado vai debater-se sobre estes autores e os seus leitores. 

 
Com José Afonso Furtado (que devorou a saga do Larsson e tem um conhecimento próximo do funcionamento dos mercados editoriais); Paulo Ferreira (dos Booktailors, os principais consultores editoriais portugueses e um dos blogues literários mais lidos); José Campos de Carvalho (paginador quer da saga Millennium, quer do Bolaño, e leitor atento dos dois fenómenos).
 
Contamos também com o testemunho de leitores compulsivos destes livros que milhões de pessoas devoram. Testemunhos deixados nos sites e redes sociais das editoras nas últimas semanas, e também ao vivo, na livraria.
 
Uma iniciativa da Revista Ler e da Bertrand, no dia 5 de Novembro, às 18.30, na loja do Chiado.
Moderação de Anabela Mota Ribeiro.
 

 

«O agente mais temido do mundo editorial, Andrew Wylie, trouxe mais uma vez para a Feira de Frankfurt um inédito do escritor chileno Roberto Bolaño. Depois de no ano passado a sua agência ter estado na feira a negociar o inéditoThe Third Reich, que começará a ser publicado a partir de Janeiro do próximo ano e será editado pela Quetzal em Portugal, desta vez o agente norte-americano tratado no meio pela alcunha de "O Chacal" trouxe Los Sinsabores del Verdadero Policia, um romance inédito e incompleto. No catálogo da The Wylie Agency lê-se uma descrição desta obra feita pela viúva do escritor, Carolina López: "Mais do que um romance, isto é uma das origens ou o núcleo do universo literário de Roberto. É o projecto em que ele trabalhou durante 13 anos. Dá aos leitores a ideia da sua singular espontaneidade e de como desfrutava da liberdade quando escrevia."


Bolaño começou a escrevê-lo no início dos anos 90 e continuou a fazê-lo durante 13 anos enquanto ia terminando os seus dois romances mais importantes,Os Detectives Selvagens(ed. Teorema) e2666 (Quetzal). Antes de morrer organizou todo este material em pastas e esteve a organizar todos os fragmentos e a dar-lhes coerência. Apesar de não ter conseguido terminar este trabalho de edição, deixou uma lista dos capítulos e descrições exaustivas dos personagens. "O que emerge deste material é uma narrativa poderosa, simbólica, hipnótica, tremendamente negra e ao mesmo tempo hilariante, a imagem de marca de Bolaño", explica-se no catálogo desta famosa agência literária. Francisco José Viegas disse ao P2 que irá publicar este livro. O editor, que esteve em Frankfurt, está muito contente com as vendas de 2666 em Portugal, cuja tiragem já vai em 23 mil exemplares.»


Do texto de Isabel Coutinho, em Frankfurt para o Ipsílon.

«A leitura dos textos de Bolaño me causam uma certa melancolia. O prazer estético supera a melancolia, mas tenho que ser sincera e assumir a tristeza que me toma. Por vezes, sinto que ele traz a completa falta de sentido da vida e coloca isto na frente do leitor. O que importa, porém, o que sinto? A leitora abandona os sentimentos para colocar a mirada na literatura, só que Roberto Bolaño é tão estupendo que a manobra fica difícil.»

 

Do outro lado do Atlântico, escreve Gerana Damulakis, uma leitora crítica de Roberto Bolaño.

«Na última entrevista antes da sua morte (à Playboy mexicana) Bolaño foi submetido a dois desafios curiosos. Quando lhe pediram para descrever a sua ideia de Paraíso, respondeu: "Veneza um lugar cheio de homens e mulheres italianas. Um lugar gasto, deterioriado, que sabe que nada perdura, nem mesmo o Paraíso,e que no final de contas, isso não assim tão importante." E quando lhe perguntam qual a sua ideia de Inferno: "Juárez, a nossa maldição e o nosso espelho, a reflexão inquieta das nossas frustações, da noss infame interpretação da liberdade dos nossos desejos".»  

 

Em cinco partes, como 2666, Rogério Casanova disseca o monumento literário de Roberto Bolaño.A parte da ambição; a parte da continuidade; a parte das coisas que acontecem; a parte do que tudo isto significa; a parte do resultado final. Todas as partes entre as páginas 42 e 48 da revista Ler.

 

Veneza.

 

 Juarez.

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«Um livro contra o esquecimento que, nas suas qualidades e nas suas imperfeições, é uma profissão de fé no poder da literatura.» Bruno Vieira Amaral